Análise do Filme: "Little Miss Sunshine"
“Há dois tipos de pessoas nesse mundo,
vencedores e perdedores”.
Está é a frase que inicia o filme
estadunidense de 2006 “Little Miss Sunshine”. Este foi dirigido por Jonatham
Daylon e Valerie Faris, além de que foi gravado com baixo orçamento e em apenas
30 dias, no Arizona e no sul da Califórnia.
É um clássico filme independente de estrada,
que retrata uma família
disfuncional em uma
situação considerada excêntrica. Sendo assim, é um filme inserido no gênero das
“Tragicomédias”, pois é um filme que apresenta diversos pontos de drama e de tensão,
mas que ao mesmo tempo, que são tão sem sentido que geram o aspecto cômico da
situação e da narrativa no geral.
O filme
foi indicado a quatro Oscars, vencendo as indicações de Melhor Roteiro Original
e de Melhor ator Coadjuvante para Arkin que interpretou o personagem do avô da
família, Edwin Hoover. Além de vencer também o Independet Spirit Award de
Melhor Filme; entre outros prêmios.
Sendo um
filme independente, que teve grandes conquistas no mundo do cinema, a narrativa
em si tem a mesma perspectiva, pois é um filme sobre perdedores, vencedores e
aceitação.
A história nos apresenta personagens de uma mesma família,
mas complexos por si só, com seus próprios interesses e dramas pessoais, sempre
passando por inúmeros problemas sociais ou psicológicos. Além do fato de que a individualidade
de cada um dos integrantes da família Hoover é ainda mais destacada com a
ausência de citações a este sobrenome ao longo da trama.
O filme tem como cena inicial a transmissão
da final de um concurso de Miss, apresentando ao espectador o contexto da
história, a conquista da Miss que faz referência a jornada principal do filme, que
é a busca pela realização do sonho da protagonista Olive Hoover, que deseja
participar e ganhar o concurso de Little Miss Sunshine.
Nota-se que todos os personagens buscam
seguir a filosofia de vida de Richard, o pai de Olive, que constantemente
reafirma que detesta perdedores, que um Hoover deve sempre buscar a vitória, pois
só existem duas possibilidades, ou
você vence, ou você fracassa.
A
filosofia de vida de Richard gera uma tensão ainda maior em Olive, que luta para
vencer o concurso que mobilizou toda a família. Ilustrando ainda uma verdadeira
crítica social ao culto a beleza, onde apenas garotas magras e bonitas poderiam
vencer, fato em que Richad, seu pai, também acredita.
O pensamento de Richard influencia também o
filho mais velho, Dwayne, que busca constantemente pela vitória, fazendo
sacrifícios como o voto de silêncio em seu desespero para conseguir se alistar,
e a situação nosense de quando descobre que nunca poderá.
Para Sheryl, sua perspectiva de derrota
parece se refletir para toda a família, onde busca ser uma boa mãe e irmã, sua
recusa ao marido de que estava fumando no início do filme, indicando que
continuar com o ato para ele possa ser considerado um gesto de derrota, e
nenhum Hoover quem se sentir derrotado ou decepcionar Richard.
Até para Frank a questão de vitória e derrota
se apresenta de uma forma mais tensa, de forma que para ele, após passar pelo
que considera inúmeras derrotas na vida, decide acabar com sua própria vida,
mas ao não conseguir concretizar isto, também vê a questão de continuar vivo
como uma derrota.
Porém, a própria filosofia de Richard também
o assusta. Durante todo o filme, ele se vê preocupado se ganhará ou não o prêmio
em sua categoria, pois isso pode levá-lo a perder suas economias. Por fim,
nota-se que ele mesmo se desespera com a derrota e se mostra inseguro e ansioso
com a expectativa da resposta positiva, e quando a resposta chega, negativa,
como ele próprio subjugava os outros membros da família como necessitando ser
sempre vitoriosos, é a sua vez de se encontrar na situação contrária, a do que
fracassou, fato que coloca a família a prova novamente e intensifica a
necessidade de união da mesma, mesmo com tantas diferenças e problemas em seus
integrantes.
Já para Edwin, o avô da família, sua
filosofia de vida é diferente, acreditando que Olive nunca poderia perder, pois
"Um verdadeiro perdedor, não é quem perde. Um verdadeiro perdedor é quem
tem tanto medo de perder que nem mesmo tenta. E esta não é você, você vai
dançar. Então se você ganhar ou não ganhar, você já é uma vencedora" (Discurso
do avô para Olive quando ela admite que tem medo de perder e ser odiada pelo
pai, enquanto estão no motel).
Mas mesmo com esse pensamento, Edwin ainda se
mantém fugindo de sua realidade ao usar heroína, substância que ele usa logo
após o discurso de incentivo para sua neta, fato que gerando um questionamento
de qual mensagem ele queria passar para a garota e se realmente acreditava no
que disse ou se estava apenas buscando conforta-la e se divertir. Uso que o
leva a morte por overdose.
Com toda esta questão da necessidade de
vencer, a necessidade de união familiar também é ilustrada a cada momento da
narrativa, se iniciando com a necessidade de todos irem juntos ao concurso por
Olive, a simbologia da Vã amarela, primeiramente que é de difícil condução,
então precisam de Richard para dirigi-la, pois mais ninguém consegue, depois o
fato de o veiculo ser extremamente velho e apresentar problemas, precisando que
todos colaborem juntos para que ela se movimente e que consigam atingir o seu
destino.
Durante todo o trajeto, a família ainda passa
por inúmeras situações hilárias, que chegam ao nonsense, mas apesar de
absurdas, são verossímeis. Situações que os forçam a união da família para
supera-las, como a quebra da Kombi, o falecimento do avô, a perda do contrato
por Richard, a notícia de que Dwayne nunca poderá pilotar, o medo da humilhação
de Olive, entre outros.
Quanto a
aspectos técnicos, vale-se ressaltar que o filme foi gravado em sua ordem
cronológica real, mantendo a evolução dos personagens e da narrativa em
paralelo a construção dos atores e do próprio filme, a jornada gradual para se
chegar à vitória, a conquista, a necessidade um dos outros, aquém da
individualidade para alcançar o sucesso.
Quanto à
trilha sonora, nota-se a presença constante de trilhas melancólicas e
dramáticas, mesmo em momentos de vitória, como no trecho da transmissão do concurso
de miss no inicio do filme, com exceção apenas da música de apresentação de
Olive no concurso de Little Miss Sunshine, que se mostra uma música animada e
divertida na situação em que se encontra, marcada por ser uma música
representante ao mesmo tempo da derrota de Olive no concurso, mas ainda mais
importante, pela concreta união da família na situação em que a garota mais
necessitava de todos.
Quanto à
direção de fotografia, apresenta constantemente planos mais abertos, que
mostram mais de um ator em quadro, ilustrando também a tentativa de união dos
integrantes da família Hover em um único take.
Já os planos contendo apenas um personagem,
em sua maioria são planos detalhes introspectivos, que demonstram seus desejos
e ambições pessoais, permitindo o desenvolvimento e compreensão do personagem.
E quando planos bem mais abertos, são para ilustrar sua solidão em meio ao
local e a situação. Nota-se que o uso de planos extremamente abertos e com os
personagens separados vai diminuindo ao longo da narrativa, conforme os
integrantes da família Hoover vão se unem cada vez mais.
A
direção de arte e caracterização dos personagens, situam o filme como sendo mais
antigo e "de época", apresentando uma família simples, com uma casa
humilde, porém aconchegante.
O filme
tem fim, deixando de ser um filme sobre busca da realização pessoal, mas
passando a ser um filme que demonstra a importância da união com os familiares,
e o mais importante, que “A vitória não está na ausência de derrotas, mas na
intenção de manter-se firme perante os obstáculos”. (Gabriel Carvalho; Revista
Plano Critico; março de 2017). “Talvez o sucesso não sejam todas as conquistas,
mas sim todas as tentativas.” (Rayana Lira; http://encenasaudemental.net/; Setembro de 2012).
Comentários
Postar um comentário